quarta-feira, 28 de maio de 2014

NightWish 20 anos... O tempo passa rapido demais

Quando o vento sopra forte

Em 2016 a banda finlandesa NightWish vai completar 20 anos. Foi proposto aos fãs brasileiros, organizados pelo clube 'Nightwish the begins a new era', que se fizessem crônicas, contando como conheceram ou como a musica dele os marcou. Eu aceitei o desafio e escrevi a minha. Leiam e deem sua opinião. As crônicas serão compiladas em um livro que será dado de presente aos membros da banda. Como ficará, isso o tempo nos dirá. Então... Que o vento sopre.

Quando o vento sopra forte


Por Cácio José Gazola


Continuamente o vento sopra, na maior parte do tempo é apenas uma suave brisa, suficiente apenas para nos levar para frente. Mas em alguns momentos da vida ele sopra forte, nos jogando em turbilhões de acontecimentos. O vento que nos obriga a esquecer quem eramos, para nos permitir entender quem somos, é sobre ele que quero falar. Quero contar as mudanças que nos dão um novo proposito, que nos moldam em novas formas, assim como o vento agride a paisagem, moldando-a em silhuetas novas e mais belas. Uma cronica sobre como a musica, o talento e a historia dos integrantes do nightwish se entrelaçaram em momentos da minha vida. Assim...

...Uma vez, quando eu ainda estava envolto por minha solidão, tendo a tecnologia como minha única companhia, fantasias como refugio, quando a introspecção era meu mundo.

Em um raro momento de retorno, ou quem sabe fuga para o mundo real, graças as minhas paixões pela fantasia e tecnologia, eu encontrei uma problemática menina. Mesmo havendo mais de mil quilômetros entre nós, seu carisma me cativou, sua necessidade em se abrir com alguém tão familiar me soou. Sua personalidade acendeu minha curiosidade, não havia receios para ela me contar cada detalhe de seus problemas, ela confiava em mim. Esses problemas me envolveram e me tiraram da letargia, animaram minha alma em querer ouvi-la e ajudá-la.

Por ela então, conheci um som diferente de tudo que até então eu já ouvira. Era como se eu encontrasse algo que há muito tempo estivesse procurando, mesmo sem estar consciente deste procurar. Conheci a voz, os acordes e notas, o talento do NightWish. E assim, juntos em nossa solidão individual, por incontáveis noites nós conversamos e ouvimos as musicas, faixa após faixa, cd após cd. Juntos, mesmo havendo mais de mil quilômetros entre nós.

A voz era assunto recorrente, os acordes tema sempre presente. Entre os desabafos trágicos de sua vida, desviar para esses assuntos era reconfortante, era revigorante. Mas dois anos depois o vento da mudança soprou forte. A minha menina problemática escapou-me das mãos, tornou-se mais distante do que pude alcançar. O vento forte como soprou, também soprou do outro lado do oceano, a voz não fazia mais parte da banda.

Lá uma nova voz, aqui um imenso silêncio. Um texto amargo fez a voz chorar e silenciar. Os textos doces que eu trocava com minha menina não existiam mais.

Meses se arrastam, conta-se um ano e nada quebra o silêncio. A nova voz, tão diferente, tão mais doce que em nada lembra a voz, também me nega em trazer as lembranças das incontáveis noites com minha menina agora perdida.

Mas o vento sempre sopra. A voz agora andando sozinha, com folego renovado, em seu próprio caminho nos mostra algo tão diferente do que estávamos acostumados, algo tão doce e 'feliz'.

Sem cessar o vento sopra, mas desta vez traz de volta minha menina. Ela esta revoltada consigo mesma, pois ela permitiu perder-se em seus problemas. Houveram overdoses, internações, coma. Mas nada disso é realmente relevante, estamos juntos agora, e ela esta ao alcance de meus olhos e minha mente. As musicas felizes fazem sentido agora. A nova voz, que doce e suavemente nos ensinou a dizer adeus a beleza, tornou-se agradável, palpável, admirável.

Ela está mudada, mas está bem, está andando em seu próprio caminho, conhecendo novos horizontes, novos limites e possibilidades. Está expondo sua arte, vivendo amores e encarando novos medos. Se testando e crescendo.

O vento ainda sopra, sempre sopra. A década quase no fim e ela esta gravida. Uma nova vida, uma nova força, um novo pulsar. Não. Uma criança sem coração, uma vida sem força, uma alma que nunca pulsará. O preço da overdose.

O vento sopra, para lá e para cá, leva e trás de volta. E como as lembranças que repousam em paz, as dores e tristezas se tornam passado. Um que insistentemente nos assombra, mais ainda assim passado. Como as águas que moem os ossos, o tempo tem que moer o passado. Minha menina perdida esta se casando! Ela se encontrou. A gravidez que os afastou, os aproximou com mais força depois. Uma outra gravidez afastou a nova voz da banda, tudo isso para no fim ninguém nascer.

Outra voz agora entoa forte as velhas musicas, uma voz que soa familiar. O vento sopra mais calmo agora. A voz trilha seu caminho. A nova voz achou sua estrada. A mente se lança em sua própria jornada, provando no final das contas, que é possível pertencer a si mesmo e a uma banda ao mesmo tempo. A menina vive sua arte, incrustada na pele, e sua família.

Depois do vento nos testar, moldar em formas novas, que nós esperamos serem mais belas que as antigas, estamos todos bem. Individualmente em nossas solidões, andando coletivamente sozinhos, cada qual em seu próprio caminho, carregando suas dores e rancores, estamos todos bem.

Enquanto o vento soprar por nós.


Deixem suas opiniões. Elas serão muito bem vindas.

Continue Lendo >